Três Meses

Fez ontem três meses, já três meses.
O meu primeiro estágio foi a pior das experiências que tive, fui humilhada, fui rebaixada, fui explorada...e por isso comecei a desenvolver ataques de pânico.
É difícil definir um ataque de pânico. Calor e frio ao mesmo tempo, pernas bambas, visão turva, respiração alterada, o coração bate tão mas tão forte que parece que vai explodir, e no peito uma sensação indescritível de medo, de pânico. 
Palavras nenhumas conseguem sequer chegar perto da aflição que é sentir semelhante coisa.
Era o meu próprio corpo a atraiçoar-me, era a minha mente a enlouquecer-me.
No início eram apenas enquanto conduzia, porque conduzir significava ir para um lugar onde eu odiava estar.
Com o passar do tempo, os ataques começaram a ser em todo lado.
Até que um dia, já não consegui sair de casa.
Deixei o estágio a meio.
Ao que se seguiram dez, dez longos meses a lutar contra isso, contra os ataques de pânico e agorafobia.
Dez meses de oportunidades perdidas, de lugares que não conheci, de pessoas com quem não me cruzei....foi muito tempo.
Alguns dias, com muito custo, conseguia ir até um café, outros dias nem os meus cães conseguia levar a passear à frente de casa.
Deixei de fazer tudo o que gostava de fazer, deixei de ir ao cinema, às compras, jantar fora...foram dez meses vazios, dez meses em que vivi num enorme, gelado e escuro buraco.
Dez meses onde eu não tive objectivos, não tive sonhos....
Até que um dia surgiu a oportunidade de fazer um novo estágio.
Como ia eu fazer um estágio se eu não conseguia sair de casa?
Tentei, por mim, mas principalmente pelos meus pais, porque sou a única filha que eles têm e acredito que ver a filha no estado em que estava lhes devia doer como nenhuma outra coisa no mundo. E os meus pais foram as únicas pessoas que não me abandonaram, que nunca me largaram a mão, quando todas as outras o fizeram.
Então tentei, com tanto, tanto esforço...
Não me lembro dos primeiros dias, o medo de sentir qualquer coisa era tanto que esses primeiros dias estão envoltos numa névoa.
Mas fez ontem três meses que comecei esse estágio e que nunca mais senti nada, absolutamente nada.
Não sei como foi possível, não sei se foi uma espécie de pequeno milagre, mas eu voltei à vida, voltei a ser eu.
Eu venci o meu medo.
Podia ter vergonha disto, mas não tenho.
Tenho orgulho.
Porque eu venci.
Porque eu fui mais forte.



5 comentários

  1. Que consigas sempre ultrapassar todos os obstáculos da vida...boa sorte e que tudo continue a correr bem.

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  2. Ainda bem que conseguiste vencer esses ataques e não tens medo de expor a tua história. Ataques de pânico são uma triste realidade que muitas vezes é desvalorizada. É das piores sensações que se pode sentir, viver constantemente com medo. Obrigada por este post!

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  3. Muitos muitos parabéns
    Passei pelo mesmo há mais de 7 anos (quando tive o primeiro). Hoje tenho um filho, e estou bem!
    Lembro-me de estar a ver tv sentada no sofá com os meus pais, e ter tido um ataque de pânico... nem se aperceberam porque fugi para o Wc... sofre-se muito.
    Coragem, e força! Boa sorte para o trabalho.

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  4. Eu percebo isso tão bem :) também tive assim e continuo a ter de vez em quando.. mas não nos podemos ir a baixo... é dificil mas vamos ter durante toda a vida.. a vida é lixada mas pronto! Muita forççaaaaaaaa é o que te desejo porque sei que tenho de ter pra mim tbem :)
    Beijinhos

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  5. Como eu compreendo este post. Acho que só quem tem este género de ataques/ ansiedade é que percebe e infelizmente eu percebo-te. Acredita que preferia não perceber. É horrível e muitas vezes não conseguimos lidar de outra maneira se não estarmos isoladas... Fico contente por ti. Por teres conseguido ultrapassar essa dificuldade. Temos de aprender a lidar com isto de modo a que não prejudique a nossa vida. Às vezes é tão dificil...

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